Um conceito que inverte a lógica atual de funcionamento do mundo e das economias. No lugar de lucro e desenvolvimento a todo custo, o cuidado com as pessoas e o meio ambiente.
É o Bem Viver, uma tecnologia social vinda dos povos andinos, que já influenciou políticas públicas em países como Equador e Bolívia, e que foi difundido no Brasil com a Marcha das Mulheres Negras.
E ele é o tema deste ano do Festival Latinidades, que chega à sua 16ª edição como espaço de articulação política e cultural em torno do 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha.
O evento é realizado no mês de julho em Brasília e, pela primeira vez, também no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Salvador. A idealizadora e diretora do festival, Jaqueline Fernandes, explica a escolha do tema e como ele é tratado na programação.
“Ele vem marcando uma posição que é oposta ao que a gente vive hoje no sistema capitalista, que é o desenvolvimentismo, uma exploração desmedida da natureza dos seres humanos. E a gente está discutindo isso no Latinidades sobre várias perspectivas. O que é o Bem Viver do ponto de vista de acesso à política pública, à reparação, cuidado, auto cuidado”.
As discussões vão de violência a formação de líderes políticas, passando por ensino superior, antiproibicionismo e sexualidade.
Um dos debates traz o conceito da “macroeconomia da igualdade”. Algumas mulheres negras que atuam com pioneiras em suas áreas foram convidadas.
Uma delas é a Carol Santos, fundadora do Educa +, organização que trabalha com alfabetização de jovens no Complexo do Chapadão, no Rio de Janeiro, mas que também os ensina sobre blockchain, uma tecnologia de ponta cujo conhecimento normalmente é restrito a grupos de maior poder aquisitivo – e brancos.
“Pra gente construir um ecossistema que faça mais sentido para as pessoas, a gente precisa de pessoas diversas nessa construção, sejam mais mulheres, sejam mais pessoas negras, sejam pessoas de periferia. Agora a gente foi inundado por informações relacionadas à inteligência artificial. E o que que a gente faz com isso? A gente fica passivo, olhando isso se desenvolver e as pessoas desenvolverem pra gente, e a gente só consumir, ou eu vou construir produtos e serviços e vou fazer parte dessa construção de maneira significativa?”
O Latinidades também conta com shows e oficinas, como a de produção de bandas. E é, sobretudo, um espaço de articulação política. Uma continuidade do trabalho que originou o 25 de julho: o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-Caribenhas, realizado em 1992, como conta Jaqueline Fernandes.
“Elas se comunicavam por cartas, a gente não tinha e-mail ou outras maneiras de fazer isso mais fácil, como a gente faz hoje, então elas fizeram um grande esforço para se encontrarem e para, a partir dali, compreender que a criação de uma data era um marco político. Então o que a gente faz é simplesmente dar continuidade a essa luta. E todo esse movimento que a gente faz com certeza, a partir da cultura, é político”.
Toda a programação é gratuita. Para participar, é preciso pegar o ingresso para cada atividade do seu interesse em latinidades.afrolatinas.com.br. E vale destacar que esse é um evento para todo mundo. Jaqueline Fernandes, diretora do festival ressalta que o evento, feito e idealizado por mulheres negras, é aberto a todos.
“O que a gente está fazendo é criando um festival onde as mulheres negras são protagonistas. Nos espaços de fala, de decisão, de curadoria, de produção, somos todas mulheres negras. Pessoas não negras são totalmente bem-vindas como público, e construindo, e evoluindo com a gente nessa luta antirracista. Então é um festival de mulheres negras para toda a sociedade”.
A Empresa Brasil de Comunicação (EBC) apoia o Festival Latinidades em 2023. Confira a programação completa no site do evento.
Edição: Beatriz Arcoverde
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