De acordo com a Operação Acolhida, ação do governo federal para garantir o atendimento humanitário a refugiados e imigrantes, o Brasil já recebeu mais de 100 mil venezuelanos nos últimos cinco anos. A partir da estratégia de interiorização, as pessoas que decidem sair da Venezuela motivadas pelo agravamento da crise econômica e social no país vizinho são realocadas em diferentes cidades brasileiras, entre elas Novo Hamburgo. A chegada de imigrantes reflete, diretamente, na Rede Municipal de Ensino. Conforme os dados do levantamento mais recente da Secretaria de Educação (SMED), realizado em junho de 2023, estão matriculados 194 estudantes estrangeiros nas 90 escolas municipais hamburguenses. O maior número é de crianças vindas da Venezuela (151), seguida pela Argentina (14), Haiti (5) e México (4).
A partir destas informações, a SMED desenvolve uma série de ações e estratégias voltadas ao atendimento deste público. “Assim como toda criança nascida no Brasil, a educação pública de qualidade é um direito, também, para os imigrantes e refugiados que chegam aqui. De forma intersetorial, realizamos ações focadas no acolhimento e também na aprendizagem destes estudantes”, detalha a secretária de Educação, Maristela Guasselli. No ano passado, foi realizado um mutirão de atendimento às famílias estrangeiras para encaminhamento aos serviços públicos. A SMED também adotou a utilização de um dicionário, em diferentes idiomas, com traduções de expressões comuns no cotidiano escolar.
Move Sem Fronteiras
Lançado no ano passado como projeto-piloto e ampliado para todas as regiões da cidade em 2023, o Move Sem Fronteiras é mais uma iniciativa da SMED para qualificar o atendimento a estudantes estrangeiros. O objetivo é fortalecer a política de ingresso e permanência destas crianças na Rede Municipal de Ensino. Vinculados ao setor de Educação Integral da SMED, os profissionais que atuam no projeto buscam identificar as necessidades e contextos de cada estudante para elaborar as intervenções que serão realizadas, sempre de forma articulada com os professores e escolas que atendem a estas crianças e jovens nas aulas regulares. “Sempre é realizado um diagnóstico inicial para perceber as dificuldades e necessidades de cada estudante e então definir quais serão as ações e o cronograma de atendimento. Olhamos para cada um de forma individual e personalizada”, explica a coordenadora do setor de Educação Integral, Vanessa Boeira. Um dos conceitos chave do projeto é a interculturalidade, que promove a troca de experiências, fortalece o respeito mútuo e valoriza a diversidade cultural.
Na semana passada, os profissionais do MOVE sem Fronteiras apresentaram a devolutiva das ações desenvolvidas no primeiro semestre para os assessores pedagógicos da SMED. “O MOVE Sem Fronteiras tem se configurado como uma ferramenta potente de inclusão social, educacional e cultural. Avaliamos constantemente o projeto, a fim de atender com qualidade as demandas dos imigrantes que escolheram o Brasil para viver, e especialmente Novo Hamburgo.” Destaca a diretora de Educação, Neide Vargas.
Música e empatia no acolhimento
Morando há três anos no Brasil, a professora Maria Eugênia Aristimuno conhece de perto o que sentem os estudantes vindos de outros países. Os desafios para se adaptar ao novo país e a dificuldade com o idioma desconhecido também foram enfrentados por ela quando chegou a Novo Hamburgo, vinda da Venezuela. Licenciada em Educação Especial, precisou trabalhar em fábricas de calçados antes de encontrar oportunidade na sua área de interesse profissional.
Após aprender Português e realizar cursos de aperfeiçoamento, Maria Eugênia foi contratada e hoje é uma das educadoras que atua no Move Sem Fronteiras. “Eu compreendo a dificuldade que as crianças venezuelanas têm em relação à adaptação e ao idioma. Nosso trabalho é auxiliá-las para que aprendam a língua e possam se comunicar e se desenvolver aqui”, explica a professora que utiliza em sua abordagem elementos da cultura venezuelana como o cuatro, instrumento musical típico do seu país. Atuam ainda no programa o também venezuelano José Figuera e as brasileiras Aline Martiny e Faheana Thonnigs.
Comunidade venezuelana na escola
Escolas de todas as regiões da cidade têm estudantes estrangeiros, da Educação Infantil à Educação de Jovens a Adultos (EJA). O maior número está matriculado na Escola Municipal de Educação Básica (EMEB) Pres. João Goulart, no bairro Petrópolis. Lá, são 22 estudantes estrangeiros, todos vindos da Venezuela. “No início era mais complicada a comunicação, agora já criamos estratégias para falar com as famílias e também contamos com a ajuda de quem já está aqui há mais tempo. Percebemos que, de maneira geral, as crianças lidam muito bem com as diferenças culturais e de idioma”, comenta a diretora da escola, Carla Stoffel.
Morando há quase quatro anos no Brasil – os últimos sete meses em Novo Hamburgo – a jovem Edgarly Montilla, 12 anos, já se sente adaptada ao país. “Nos primeiros três anos nós moramos em Manaus e foi um pouco mais difícil. Para mim, esta escola é o melhor lugar para estar. É onde eu me sinto acolhida, tenho amigos e posso aprender”, define a estudante do 6º ano do Ensino Fundamental que sonha em ser cantora.
Os venezuelanos que estão há mais tempo no Brasil ajudam na comunicação daqueles que recém chegaram. “Às vezes as professoras me chamam para traduzir alguma palavra que elas não entendem. Eu acho importante ajudar. Meus colegas também querem saber algumas coisas em espanhol”, conta Alexa Viera, 11 anos, estudante do 4º ano. Quando se encontram pelo pátio, os estudantes compatriotas logo se reconhecem e voltam a falar em espanhol entre si. Os maiores tratam de prestar atenção nos mais novos, independente dos laços familiares, costume no país que deixaram para trás com suas famílias em busca de novas oportunidades.
novohamburgo.rs.gov.br
www.miguelimigrante.blogspot.com