(Foto: Reuters/Remo Casilli)
O Mar Mediterrâneo volta a ser palco de tragédias humanas, com imigrantes e refugiados enfrentando naufrágios em sua tentativa de alcançar a Europa. Dados revelados pela Organização Internacional de Migrações (OIM) apontam que, nos sete primeiros meses de 2023, 2,1 mil pessoas perderam a vida em sua jornada rumo aos países europeus, superando os números anuais de óbitos desde 2018, informa Jamil Chade, do UOL. Especialistas alertam para a possibilidade de 2023 registrar um recorde trágico de mortes entre estrangeiros, caso o ritmo atual persista.
“Esses números estão bem acima dos piores anos já registrados. Estamos realmente enfrentando uma crise humanitária aguda”, destaca Fabienne Lassalle, vice-diretora geral da associação SOS Méditerranée.
Uma série de fatores pode contribuir para o aumento das mortes, incluindo o aumento do fluxo migratório, condições climáticas adversas e a escassez de operações de resgate. Em uma década, o Mediterrâneo transformou-se em um cemitério para cerca de 27 mil indivíduos. O ano mais letal foi 2016, em meio à crise dos refugiados sírios, com um total de 5,1 mil mortes registradas.
A situação atual coincide com uma reação dos governos europeus, que buscam criminalizar qualquer forma de auxílio aos imigrantes. Embarcações e grupos envolvidos em resgates podem ser acusados de auxiliar na “imigração irregular”, sujeitos inclusive a apreensão de barcos e à proibição de atracar em portos italianos e de outros países.
Recentemente, a União Europeia (UE) estabeleceu um acordo com a Tunísia sobre questões migratórias. Contudo, ativistas de direitos humanos denunciam esse pacto como uma “traição”, argumentando que a Tunísia, em troca de recursos, está ajudando os europeus a manterem os imigrantes ao sul do Mediterrâneo, muitas vezes em condições desumanas.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados relata que somente nos primeiros sete meses de 2023, cerca de 90,7 mil pessoas desembarcaram no sul da Itália. Em regiões como a ilha de Lampedusa, um centro de acolhimento projetado para 600 pessoas atualmente abriga mais de 2,5 mil estrangeiros, à espera de uma definição sobre seus destinos.
O número já se aproxima consideravelmente do total de todo o ano de 2022, quando 106 mil pessoas cruzaram o mar em direção às costas italianas. A ONU estima que o número de mortos seja apenas uma fração do total real, não considerando os barcos não identificados, óbitos em campos de refugiados ou aqueles que perecem ao atravessar desertos e áreas conflituosas na África.
Em determinadas rotas do Mediterrâneo, a triste estatística revela que um em cada 20 imigrantes não sobrevive à travessia da África para os portos europeus. Flavio Di Giacomo, porta-voz da OIM, expressa profunda preocupação: “É muito provável que haja muito mais naufrágios do que aqueles de que temos conhecimento, e esse é o meu verdadeiro medo”.
A OIM também destaca que mais de dois terços das vítimas não tiveram suas origens identificadas, muitas vezes viajando sem documentos ou com passaportes falsificados para evitar serem deportadas aos seus países de origem. Como resultado, milhares de pessoas nunca são resgatadas, e suas famílias permanecem sem informações sobre o destino de seus entes.
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