Foto Wikipedea
Por Thais Cardoso*
Conflitos armados já resultaram em pelo menos 110 milhões de refugiados em todo o mundo, segundo estimativas do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur). O número vem crescendo a cada ano e pode ser ainda maior, já que não contabiliza os que vivem em campos de refugiados e as próprias mortes que acontecem em muitas travessias. Sobre essa triste situação, o USP Analisa desta sexta (3) conversou com a professora da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto (FDRP) da USP, Cynthia Soares Carneiro, e a professora do Instituto de Artes (IA) da Unicamp, Ana Carolina de Moura Delfim Maciel, que também está à frente da Cátedra Sérgio Vieira de Mello da Unicamp.
Embora existam pelo menos sete conflitos armados atualmente, nem todos recebem tanta atenção da mídia, como o entre Rússia e Ucrânia ou entre Israel e o grupo palestino Hamas. “Existem conflitos que simplesmente não saem ali de um circuito um pouco mais restrito, porque nós somos, infelizmente, muito influenciados por uma mídia que é bastante excludente”, lamenta Ana Carolina.
Ela explica que só no caso da Palestina, em menos de um mês pelo menos 340 mil pessoas já foram forçadas a abandonar suas casas, seus pertences e toda a vida que tinham antes. “É um número que infelizmente a gente não vê um horizonte de término. É uma situação realmente crítica e que eu costumo dizer que não dá para chamar de crise, porque crise é uma coisa circunscrita, que teoricamente tem começo, meio e fim. O que a gente está vendo aí é um mal crônico”, diz ela.
Cynthia explica que o tratado criado para acolher os europeus refugiados em virtude das grandes guerras do início do século XX hoje é utilizado para bloquear o acesso dos atuais refugiados graças a uma cláusula que restringe a acolhida por um estado central caso o refugiado esteja em um terceiro país considerado seguro. Segundo ela, isso tem sido usado para justificar a retenção de refugiados em locais como Turquia, Líbia, Marrocos, México e até mesmo o Brasil – como é o caso dos venezuelanos recebidos pela Operação Acolhida.
“Hoje, depois da queda do Muro de Berlim, levantaram-se uma infinidade de muros, de bloqueios físicos e uma legislação de refúgio e migratória extremamente restritiva. Os refugiados sofrem duas violências: a violência de ter que deixar os seus lares e a violência de ter uma resistência na acolhida dessas pessoas, que estão em um estado lastimável de vulnerabilidade”, afirma ela.
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