Data é celebrada neste 21 de fevereiro; Unesco enfatiza educação multilíngue e aponta que 40% das crianças têm dificuldades de acesso à educação em seus idiomas primários; representante do Brasil detalha desafio com inclusão de migrantes, destacando o caso de venezuelanos.
No Dia Internacional da Língua Materna, celebrado em 21 de fevereiro, a Unesco enfatiza a importância da educação multilíngue para o aprendizado intergeracional. A Agência de Cultura, Educação e Ciência da ONU estima que 40% das crianças enfrentam dificuldades de acesso à educação em sua língua materna, o que muitas vezes resulta em marginalização e perda de herança cultural.
No Brasil, a chegada de migrantes venezuelanos tem desafiado o sistema educacional, especialmente em estados como Roraima, que faz fronteira com a Venezuela. A chefe de Educação do Unicef no país, Monica Dias, ressalta a crescente necessidade de inclusão de crianças venezuelanas nas escolas, mesmo diante da barreira do idioma.
“Essa questão da inclusão de crianças de outras nacionalidades no Brasil é um desafio que o nosso escritório vem enfrentando aqui, especialmente na nossa fronteira com a Venezuela. E a gente vem exatamente nesse momento, desde o ano passado, dialogando bastante, especialmente com a Secretaria Municipal de Educação de Boa Vista, sobre como é possível a gente desenvolver uma escola bilingue. A gente observa que as crianças venezuelanas acabam se desinteressando muitas vezes pelo estudo porque fica muito difícil para essas crianças acompanharem o que está acontecendo nas escolas por conta da língua já que falamos português aqui no Brasil. E essas crianças muitas vezes elas falam espanhol ou alguma língua indígena própria da Venezuela”
Segundo a representante do Unicef no Brasil, a entidade vem buscando parcerias para encontrar solução e apoio para que, especialmente o governo de Roraima, possa apoiar essas crianças.
Dados citados por Monica Dias apontam que cerca de 300 a 700 pessoas cruzam a fronteira no estado de Roraima por dia. Boa parte delas tem a intenção de ficar no Brasil. Assim, é necessário garantir acesso à educação e um passo fundamental é ter a documentação necessária.
“A gente já teve um projeto muito interessante com a OIM, chamado Passaporte para Educação, no qual a gente dá um apoio às famílias, um material do ponto de vista de documentação, como é que essas crianças, ao chegarem no seu estado de destino, como é que elas podem buscar e fazer a matrícula, isso é uma coisa que a legislação brasileira garante. As crianças que permanecem no estado de Roraima, como é que essa rede pública consegue absorver tantas crianças numa infraestrutura que não é compatível ou não está planejada para absorver essas crianças e essa questão da língua materna. Então, de fato, a gente precisa desenvolver aqui uma proposta de uma educação bilingue”
Língua Materna para educação inclusiva
A Unesco define “língua materna” como o idioma aprendido primeiro, com o qual a pessoa se identifica e se comunica melhor. O ensino nesse idioma é crucial para uma educação equitativa e para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ODS.
O uso da língua materna como meio de instrução é vital para o sucesso educacional, especialmente para minorias. A Unesco advoga pelo ensino na língua materna, pois evidências mostram que as crianças aprendem melhor assim.
Segundo a agência, em países de renda média-alta e alta, crianças que aprendem em sua língua materna têm 14% mais probabilidade de ler com compreensão ao final do ensino fundamental. No ensino médio, essa probabilidade aumenta para mais de 40%.
No Dia Internacional da Língua Materna, a Unesco pede aos governos a garantia da educação multilíngue para promover a coexistência de idiomas, alcançar os ODSs e celebrar a Década Internacional das Línguas Indígenas.
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