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Por NUBIA SILVEIRA*

Da bibliografia de Isabel Allende constam 27 títulos. Desde o lançamento, com grande sucesso, de seu primeiro livro, A Casa dos Espíritos, em 1982, a ex-jornalista chilena, nascida no Peru, se dedicou apenas à literatura. Se fizermos as contas, ela vem lançando, em média, um novo livro a cada 18 meses. O último – O Vento Sabe Meu Nome (Bertrand Brasil, 2023) – trata de um tema atual na história da humanidade: a migração. O Relatório Mundial sobre Migração 2022, da ONU informou que, no ano anterior, os migrantes internacionais somaram 281 milhões de pessoas. Os deslocamentos para outros países ou dentro do próprio país podem ser voluntários ou forçados. Neste último caso, os migrantes buscam refúgio em outro lugar, porque, normalmente, correm risco de morte em sua terra natal, ameaçados pelos próprios governos, por narcotraficantes, paramilitares, milicianos ou outros grupos.

A escritora, que tem cidadania norte-americana, acompanha de perto o problema dos migrantes, um dos públicos atendidos pela Fundação Isabel Allende, criada em 9 de dezembro de 1996, em memória de sua filha Paula, falecida, no ano anterior, aos 29 anos, vítima de uma doença hereditária, a porfiria, que lhe foi transmitida pelo pai. O Vento Sabe Meu Nome conta com poucos personagens e é de interessante e fácil leitura. A história começa na Áustria, em 1938, ano em que o país foi anexado à Alemanha. O sentimento contra os judeus crescia a cada dia, estimulado pelos nazistas. Os Adler, judeus burgueses, testemunhavam as mudanças ocorridas na sociedade vienense, mas decidiram esperar um pouco antes de optar pelo exílio. As esperanças ruíram na noite em que os nazistas atacaram as sinagogas, as casas e negócios de judeus. Rudolf, médico, foi brutalmente ferido pela turba, que gritava palavras de ordem contra os judeus. Sua mulher, Rachel, professora de piano, e seu filho, Samuel, que completaria seis anos, foram salvos por um vizinho.

Depois desta noite sangrenta, conhecida como a Noite dos Cristais, da qual Rudolf não retornou, coube a Rachel decidir sobre o que fazer para manter a segurança e a vida de Samuel. Foi vencida pela situação e pelos conselhos dos amigos: enviou o filho, junto com um grupo de crianças judias, para Londres. Lá ele estaria a salvo. O menino viajou agarrado ao seu violino e com a promessa de que a família voltaria a se reunir, quando todo aquele horror acabasse. Anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, Samuel, migrante forçado, órfão de toda sua família, migra, por amor, para os Estados Unidos.

depois da tragédia de Samuel, Isabel volta-se para a migração de centro-americanos, que fogem de países violentos como El Salvador, e tentam entrar nos Estados Unidos, mesmo que seja de forma ilegal. No início dos anos 1980, dias depois da chacina ocorrida na cidadezinha de El Mozote, em El Salvador, Edgar Cordero atravessou a nado o rio Grande, agarrado a um pneu, com Letícia, a única filha que lhe restara, presa a sua cintura por um fio. Chegaram a Califórnia e ali viveram como foi possível.

Na década de 2020, também para fugir da violência, a salvadorenha Marisol Andrade de Diaz tenta entrar nos Estados Unidos com a pequena Anita. Sua ideia era pedir asilo, viver em segurança e conseguir assistência médica para a filha, de sete anos. Teve azar. O governo de Donald Trump adotara a política de “tolerância zero” com os imigrantes ilegais. Na fronteira, a mãe foi separada da filha. Marisol seguiu para uma prisão e Anita, para um albergue.

Você está curioso? Quer saber como todos estes personagens, tão distantes no tempo e diferentes culturalmente, se encontram? Leia o livro. Só dou uma dica: quem faz a costura entre todos são os advogados Selena Duran e Frank Angileri, ambos filhos de imigrantes. Isabel Allende sabe como cativar o leitor e comovê-lo com sua imaginação descomunal.

*Nubia Silveira é jornalista.

Foto da Capa: Divulgação.

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