O Papa com os participantes do XVI Capítulo Geral dos Missionários de São Carlos
Mariangela Jaguraba – Vatican News
O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira (28/10), na Sala do Consistório, no Vaticano, os participantes do XVI Capítulo Geral dos Missionários de São Carlos, conhecidos como Scalabrinianos.
“É bonito que na programação da futura pastoral missionária e caritativa em favor dos migrantes, vocês tenham escolhido se inspirar no tema do Jubileu: “Peregrinos da Esperança”, disse o Papa no início de seu discurso, detendo-se em três aspectos do serviço dos Scalabrinianos: migrantes, ministério pastoral e caridade.
Migrantes, mestres de esperança
“Primeiro: os migrantes. Eles são mestres de esperança. Partem na esperança de “encontrar o pão de cada dia em outro lugar”, como dizia São João Batista Scalabrini, e não desistem, mesmo quando tudo parece “ir contra eles”, mesmo quando encontram fechamentos e rejeições”, disse o Papa, acrescentando:
Assim, por meio das dinâmicas do encontro, do diálogo, da acolhida de Cristo presente no estrangeiro, vocês crescem junto com eles, solidários uns com os outros, abandonados “em Deus e somente em Deus”.
De acordo com o Papa, “a busca pelo futuro que anime o migrante, expressa uma necessidade de salvação que une a todos, independentemente da raça ou da condição. De fato, a “itinerância”, corretamente compreendida e vivida, pode tornar-se, mesmo na dor, uma preciosa escola de fé e de humanidade, tanto para quem assiste quanto para quem é assistido. Não nos esqueçamos de que a história da salvação é uma história de migrantes, de povos a caminho”.
Cuidar da extrema vulnerabilidade dos migrantes
A seguir, o Papa se referiu ao segundo aspecto do serviço dos Scalabrinianos: a necessidade de uma pastoral da esperança. “De fato, se por um lado a migração, com o devido apoio, pode se tornar um momento de crescimento para todos, por outro lado, se vivida na solidão e no abandono, pode degenerar em dramas de desarraigamento existencial, de crise de valores e perspectivas, a ponto de levar à perda da fé e ao desespero”, disse Francisco.
Para que não lhes falte a força e a resiliência necessárias para continuar os caminhos empreendidos, é preciso que alguém se debruce sobre suas feridas, cuidando de sua extrema vulnerabilidade física, espiritual e psicológica. São necessárias sólidas intervenções pastorais de proximidade, no âmbito material, religioso e humano, para sustentar neles a esperança e, com ela, os caminhos interiores que conduzem a Deus, seu fiel companheiro de viagem, sempre presente ao lado de quem sofre.
“Não nos esqueçamos de que o migrante deve ser acolhido, acompanhado, promovido e integrado”, disse ainda o Papa, recordando que “atualmente muitos países precisam de migrantes” e que os italianos não fazem filhos. “A Itália precisa de migrantes e deve acolhê-los, acompanhá-los, promovê-los e integrá-los. Precisamos dizer essa verdade”, sublinhou.
Uma caridade que coloque novamente no centro a pessoa
O Papa se deteve então no último ponto: a caridade. Na véspera do Jubileu de 1900, São João Batista Scalabrini disse: “O mundo geme sob o peso de grandes desgraças”.
A isto soma-se o fechamento e a hostilidade dos países ricos, que veem quem bate à sua porta como uma ameaça ao seu bem-estar. Assim, no dramático confronto entre os interesses de quem protege a sua prosperidade e a luta de quem tenta sobreviver, fugindo da fome e das perseguições, perdem-se muitas vidas humanas, sob o olhar indiferente de quem se limita a assistir ao espetáculo, ou pior, especula na pele de quem sofre.
Francisco recordou que “na Bíblia, uma das leis do Jubileu era a restituição da terra àqueles que a tinham perdido. Hoje, este ato de justiça pode concretizar-se, em outro contexto, numa caridade que coloque novamente no centro a pessoa, os seus direitos, a sua dignidade, superando os estereótipos excludentes, para reconhecer no outro, quem quer que seja e de onde quer que venha, um dom de Deus, único, sagrado, inviolável, precioso para o bem de todos”.
“O carisma Scalabriniano está vivo na Igreja. Isso é testemunhado por muitos jovens que, de vários países do mundo, continuam a se unir a vocês. Sejam gratos ao Senhor pela vocação que receberam”, concluiu o Papa.