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Narrativas de vida de migrantes e refugiados é tema do quarto encontro da Mostra de Residentes com a professora Glaucia Muniz, da Letras

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Professora Glaucia Muniz Proença Lara, da Faculdade de Letras da UFMG
Foto: Yan Marques – IEAT/UFMG

A professora Glaucia Muniz Proença Lara, da Faculdade de Letras da UFMG, apresentou o projeto Migrantes e refugiados no Brasil: entre narrativas de vida, leis e políticas públicas no quarto encontro da Mostra de Residentes do IEAT 2025, realizado em 28 de maio de 2025, na Unidade Administrativa 3 da UFMG.

Linguista e pesquisadora da Análise do Discurso de linha francesa (AD), a professora Glaucia Muniz Proença Lara iniciou sua apresentação falando de sua trajetória acadêmica, iniciada na graduação e no mestrado pela UFMG e seguida pelo doutorado em Semiótica e Linguística Geral pela Universidade de São Paulo (USP), com estágio doutoral de um ano na Universidade Paris X – Nanterre, na França. Glaucia também concluiu três pós-doutorados em Análise do Discurso, sendo que o mais recente (2019-2020) resultou nos livros Vivendo do outro lado do Atlântico: histórias de brasileiros em Portugal, lançado em 2021, pela Grácio Editor (Coimbra – Portugal), e Entre experiências e memórias: narrativas de vida de migrantes brasileiros na Europa, publicado em 2023, pela Editora Pontes.

Glaucia contou ter tido o primeiro insight para iniciar sua pesquisa com migrantes e refugiados ainda na França, em 2015, quando a fotografia de Alan Kurdi, menino sírio de três anos encontrado morto em uma praia, comoveu o mundo.  Antes, porém de adentrar o tema de seu projeto de pesquisa, Glaucia apresentou um breve histórico da linguística, que tem os primeiros registros nos estudos evolutivos das línguas no século XIX (linguística histórica), mas que nasce como linguística moderna, no século XX, a partir de Ferdinand de Saussure. Ela explicou que esse autor tinha como foco investigar a língua como um sistema, uma estrutura, sem se preocupar com o estudo da fala, considerada variável e circunstancial.

A gramática gerativa de Noam Chomsky, desenvolvida a partir do final dos anos 1950, também segue caminho parecido quando considera que o linguista deve estudar a competência que o falante tem e não o desempenho real desse falante. Ou seja, a linguística deveria se ocupar apenas do conjunto de regras, de princípios que os falantes de uma determinada língua internalizam.

Essa lacuna no que tange ao estudo da situação real de uso da língua deu origem a outras disciplinas, como a sociolinguística, a pragmática e a teoria da enunciação, que, privilegiando a heterogeneidade e a diversidade, buscaram sistematizar os usos concretos da linguagem por falantes reais.

É nessa seara que se insere a análise do discurso, que, segundo a pesquisadora, busca entender não apenas os ditos, mas também os não ditos e os já ditos. Para concluir a primeira parte da exposição, Glaucia destacou que o campo teórico da análise do discurso relaciona aspectos linguísticos e sociais (culturais), voltando-se para a relação texto/contexto e levando em conta tanto o enunciado quanto a enunciação.

Em seguida, Glaucia deu mais detalhes sobre seu objeto de pesquisa, demonstrando a relevância do tema. Ela explicou a dicotomia conceitual entre migrantes e refugiados, que, de acordo com ela, é difícil de estabelecer na prática. Se migrantes são indivíduos que voluntariamente partem para um novo país, mesmo que seja para escapar da fome e da pobreza, e refugiados, aqueles que migram por conta de conflitos armados ou perseguições e violações de direitos humanos, existem muitos casos que desafiam essa separação entre migração forçada e voluntária.

Apresentando dados sobre a migração no mundo, Glaucia Muniz destacou a urgência do tema. Em seguida, deu detalhes sobre a legislação brasileira relativa a esse tema, falando da lei nº 9474/97, que implementa o Estatuto dos Refugiados da Convenção de Genebra (1951), e da lei nº 13445/17, que avança em relação aos direitos humanos. Segundo ela, embora as políticas públicas tenham avançado, o apoio humanitário aos migrantes e refugiados no território brasileiro ainda recai majoritariamente sobre Organizações Não Governamentais (ONGs) e outras instâncias da sociedade civil.

A partir exemplos sobre a realidade de vida de migrantes e refugiados no Brasil, Glaucia Muniz elencou o caminho de pesquisa proposto, com foco em analisar, à luz da análise do discurso francesa, histórias de migrantes e refugiados residentes na cidade de Belo Horizonte. A partir de entrevistas – tomadas como narrativas de vida – a pesquisa buscará entender de que modo ocorre o acolhimento e a integração desses sujeitos no Brasil, em especial, se o Estado e as políticas de assistência conseguem (ou não) suprir necessidades de apoio e inclusão. Para Glaucia Muniz, a proposta da pesquisa é aprofundar a análise sobre como esse acolhimento/integração ocorre e de que maneira ele se relaciona direta ou indiretamente, numa segunda fase da pesquisa, com os dispositivos legais que tratam dos direitos dos sujeitos deslocados no território brasileiro.

Para finalizar, Glaucia Muniz disse que a pesquisa busca também dar visibilidade ao problema do acolhimento e da integração dos migrantes e refugiados no país. “As histórias de vida dos entrevistados serão divulgadas por meio de eventos e publicações com o intuito de sensibilizar a sociedade sobre esse problema”, destacou.

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